Arquivo do mês: maio 2011

Grande novidade: descaso com ciclista em shopping

Sábado, dia 20 de maio de 2011 (portanto há uma semana), às 18h15, fui destratado por dois funcionários do estacionamento do Park Shopping Barigui. Depois de estacionar e passar o cadeado na minha bicicleta no precário bicicletário do estabelecimento, me dirigia à entrada do shopping quando fui chamado por um desses funcionários da mesma maneira com a qual se chama um animal: “ô!”. O fato não condiz com o slogan do shopping: “Tudo para fazer você feliz”, há que se concordar.

Não acreditando que fosse comigo, não me voltei para o sujeito, pois achei que ele estava espantando algum cavalo ou falando com os seus. Mas, outra vez, o garoto fez: “ô!” Dessa vez olhei e constatei que era comigo. Continuando a completa falta de tato com um cliente, o garoto gesticulou um “venha aqui”. Nada de “boa noite”, nem “por favor”, nem “com sua licença, Sr.”. Questionei várias vezes o chamado do garoto na tentativa de fazê-lo mudar para um modo mais educado. Não funcionaou e acabei indo até lá.

O mal-educado, juntamente com o homem que estava na guarita, disse que eu precisava informar o número da vaga onde coloquei a bicicleta. Não vi número algum, então disse que não sabia. O homem da guarita, em tom irônico, explicou como funciona a sequência dos números: “primeiro vem o um, depois o dois e em seguida o três”, disparou, sarcástico. Mas fui até lá verificar os tais números enquanto olhares ameaçadores do garoto arrogante me fuzilavam.

Depois de minuciosamente procurar, encontrei um número minúsculo impresso em papel e coberto com algum tipo de plástico transparente adesivo. Um minúsculo número colado no cano de ferro que apara as rodas das bikes, bem embaixo de onde fica o pneu. Por conta disso o número já estava manchado da água da chuva e da sujeira. Muitos dos precários aparadores de rodas (que insistem em chamar de bicicletário), não possuíam número algum.

De posse do tal número, voltei à guarita e disse ao homem que estava dentro dela que a identificação das “vagas” foi mal feita. Continuando com seus tons de chacota, o homem entregou-me uma ficha de número 5, mas que claramente era um número de dois dígitos com um deles raspado.

Reclamei no SAC pessoalmente logo que entrei no shopping sobre o caso. Disseram que eu receberia um telefonema com satisfações e que os funcionários seriam advertidos. Bem, não recebi nenhum comunicado, nem um tipo de consideração ou satisfação. Então quero manifestar o meu desprezo por esse tipo de gente estúpida e ignorante contratada ou terceirizada pelo shopping, que foi infeliz e incompetente ao administrar esse setor. Bicicletários funcionais são os que possuem paraciclos, estruturas tubulares da altura da bicicleta, onde se pode prender o quadro da bike com um cadeado. Outros bicicletários, como o do Shopping Curitiba, possuem ganchos onde se dependura a bike e, apesar permitir “cadear” somente a roda, um funcionário tranca o local onde elas ficam e só liberam mediante a apresentação de uma ficha.

Mas o Shopping Barigui pouco se importa com o tratamento dispensado aos ciclistas, conduta muito comum em vários estabelecimentos parecidos em Curitiba, como uma das unidades do Wal-Mart, como o Shopping Mueller e muitos outros. Ao que parece, essa postura discriminatória desses estabelecimentos, cultua o falso status proporcionado aos usuários pelo automóvel. E parece que a bicicleta sempre ficará em segundo plano na Maravilhosa Cidade Ecológica do Brasil. A cultura do “dane-se-o-ciclista-porque-é-minoria” é a cara do Brasil: desinformada, incompetente, inconsequente e sem o menor bom senso.

Portanto, população de Curitiba, do Brasil e do mundo, continuem pagando pedágios alarmantes, ocupando todo o espaço das ruas com toneladas de aço e vidro das suas máquinas fazedoras de CO2. Continuem não investindo em educação e boas maneiras, formando funcionários incapazes de tratar bem um cliente comprador em potencial. Continuem contratando gente sem instrução para fazer suas relações públicas e continuem achando que estão levando vantagem em tudo. Essa fórmula mal-cheirosa vai garantir o sucesso da nossa decadência. Voltando aqui para o Brasil, é com essa fórmula que se vai assegurar a revelação da verdadeira cara do Brasil na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. Parabéns a todos que estão “se lixando”.

Isso, que era para ser uma reclamação, virou um artigo. Mas ainda vou enumerar os tropeços de um dos shoppings mais cheios de pompa de Curitiba:

– Bicicletário não tem paraciclos que funcionem de verdade.
– As fichas entregues ao ciclista ao guardar a bike têm números adulterados e nada confiáveis.
– Nem todas as vagas para bicicletas têm números. As que têm são pessimamente identificadas.
– Alguns funcionários não têm respeito pelos clientes e não sabem ao menos dizer “boa noite”.
– O Serviço de Atendimento ao Cliente não dá satisfações, portanto não serve para muita coisa.
– Não há nenhum tipo de informação ao ciclista no site so shopping e nenhuma instrução correlata no “bicicletário”.

Então, Senhores, um shopping como o Barigui, que se diz “um dos mais inovadores do país” (segundo o site oficial), e “um espaço para realizar seus sonhos, desejos e vontades com segurança e, acima de tudo, estilo”, cai na cilada do funcionário mal preparado, como a maioria das coisas nesse país.

Outras informações que constam no site:

“O atendimento aos clientes também é especial. Além de sofás e poltronas, que formam áreas de descanso ao longo de todo o shopping, você conta com o serviço exclusivo Posso Ajudar. Uma equipe de atendentes está constantemente à disposição para ajudá-lo no que for preciso: informações, orientações sobre as lojas, o shopping e suas operações. Além disso, todos eles estão preparados para auxiliar enquanto você faz as compras, seja carregando sacolas, carrinhos de bebê ou dando suporte a portadores de necessidades especiais.”

Todos os funcionários estão preparados para auxiliar? Hora de rever muita coisa, Shopping Barigui. Grana e glamour você já têm. Só lhe falta educação e bom senso.

A propósito, aqui vai uma aula de paraciclo aos administradores comerciais, institucionais e públicos:

Esses são os paraciclos da UFPR, na Reitoria, órgão público que tem poucos recursos mas teve inteligência. O equipamento permite que se prenda a bike pelo quadro, não só pela roda (muitas rodas são presas com blocagem rápida e o vagabundo pode levar a bike deixando só a roda).

E este é o bicicletário do Shopping Barigui, fotografado no dia do lançamento do livro O Automóvel – O Planejamento Urbano e a Crise das Cidades. Notem bem a diferença: só se pode prender a roda da bike e muitas vezes o cadeado não alcança o quadro. Coisa pouco inteligente.